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Foto do escritorRegina Mota

O fim das caixinhas de natal

Acabou o Natal. Animação e muita fantasia à espera daquele bom velhinho que leva presentes para todas as crianças. Ricas ou pobres, não importa a condição social, o bom velhinho não se esquece de ninguém. Acabou o Natal e acabaram também as caixinhas enfeitadas ou não nas mãos das crianças pobres que, nos semáforos, pedem uma contribuição para que o Natal seja mais feliz, mais farto.


Os olhos das crianças brilham com R$ 0,10 que se somam à esperança de brinquedos, roupas e comida. Ouvimos frases como: “Uma moeda pra comprar roupa nova pro natal”. Será que a metonímia “roupa nova para o natal” se realiza? Isso não sabemos, mas as esperanças são depositadas pouco a pouco, como as moedinhas que vão “enchendo as caixinhas”, enfeitadas ou não, nas mãos das crianças dos semáforos.


Muitos vidros estão fechados e temerosos; outros só querem cumprir a lotada agenda, já que, no cotidiano das metrópoles, criança pedinte nos semáforos não é novidade para ninguém. Algumas crianças não aparecem apenas na época das caixinhas à espera do “trocado natalino”; elas se tornam “amigas”, já que todos os dias, quase no mesmo horário, lá estão elas, no mesmo semáforo. Mariana (muito esperta e falante), Paula (linda e pidona), Marco Aurélio (catarro e timidez; é irmão da Mariana). São muitos nomes, muitos pedidos e quase nenhuma identidade.

Em 1999, presenteei uma criança com uma boneca. Belo Horizonte. Avenida do Contorno com Amazonas. Com um sorriso gostoso e um brilho no olhar, que não me fitaram porque o momento era só dela e da boneca, gaguejou-me um agradecimento: “Ela tem cabelo! Tem roupa!” Devido ao transito intenso, principalmente porque era véspera de Natal, não pude conversar muito com a minha “amiga” que vendia balas para ajudar a família.


Belo Horizonte. Véspera de Natal, 2003. Avenida do Contorno. A minha “amiga” voltou a vender balas. Fiquei empolgada ao vê-la e, naquela parada rápida, no semáforo, disse-lhe: “Nossa! Você está grandona, uma moça! Por que você sumiu?” E ela respondeu: “É, eu já tenho um menino!”.

Fiquei atônita e só consegui pronunciar uma preconceituosa pergunta: “Você se casou?” “Não. Saí de casa, juntei com um homem, mas ele me batia, aí voltei pra casa”. O sinal abriu. Com sorrisos nos despedimos mais uma vez, porém, sem bonecas, pois agora a realidade é aquela que se repete em todos os cantos. Avenidas que contornam meninas-mulheres que vendem balas para sustentar bebês que, caso não tenham outra sorte, receberão presentes de motoristas apressados, nos semáforos natalinos.


O sorriso da menina-mulher-mãe me fez cantarolar uma das musicas prediletas da minha filha nos dias que antecederam o Natal. “Botei meu sapatinho na janela do quintal. Papai Noel deixou um presente de Natal. Como é que Papai Noel não se esquece de ninguém, seja rico, ou seja, pobre, o velhinho sempre vem”. As caixinhas natalinas dos semáforos se foram. Papai Noel não aparece nos semáforos.

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