Provas Formais. Centro Universitário Newton Paiva. Neste frisson característico do período de avaliações acadêmicas, é difícil encontrar tempo para fazer périplos pelos textos de Língua Portuguesa, selecionados pela professora Regina Mota. Momento de estudo frenético: é importante amealhar pontos nesta fase inicial. Torna-se um trabalho árduo por se tratar de turno em que muitos trabalham durante o dia.
Isso não quer dizer, no entanto, que o sem-número de folhas distribuídas às segundas e terças não faça parte da leitura preferencial de todos. Sobretudo da minha leitura diária. O assunto é escolhido a dedo pela professora. As fontes são diversas: “Folha de São Paulo”, “Jornal do Brasil”, “Revista Veja”, “Revista Exame” etc. um exemplo que prima pela qualidade: “O Brasil lê mal”, do economista Cláudio de Moura Castro, veiculado na edição de 6 de março da “Revista Veja”. “Nossa incapacidade de decifrar um texto escrito não se deve à pobreza, mas a um erro sistêmico. Estamos ensinando sistematicamente errado”, diz. E dá a solução óbvia: “Se é assim, passar a ensinar certo deve trazer incontáveis benefícios pra a educação e para a sociedade”.
Outro exemplo é o texto da “Folha Ciência”, de 29 de março, que tem como manchete “Estudo relaciona total de horas em frente à televisão com tendência a comportamento violento entre jovens”: assunto recorrente e que deflagra grande celeuma. “TV induz agressividade, dizem cientistas”, revela a reportagem de Reinaldo José Lopes, free-lance para a “Folha”. “pesquisadores dos EUA estão fazendo um apelo radical: é preciso reduzir a uma hora diária o tempo dos adolescentes diante da TV”, acrescenta, baseado em um estudo coordenado pelo psiquiatra Jeffrey Johnson, da Universidade Columbia em Nova York.
O escritor Frei Beto entrou para a minha lista de leituras preferenciais, recentemente, confesso. O texto que publicou no Estado de Minas, de 18 de abril, é fantástico. “Eu, o livro” foi, indubitavelmente, escrito em um momento de inusitada inspiração. Vale dedicar um bom naco desta minha costura. “(Eu, o livro,)” sou muito especial. Minha tecnologia é insuperável. Funciono sem fios, bateria, pilhas ou circuitos eletrônicos. Através de mim as pessoas viajam sem sair do lugar. Basta abrir e posso levá-lo à Roma dos Césares ou à Índia dos brâmanes, aos estúdios de Hollywood ou ao Egito dos faraós, ao modo como as baleias cuidam de seus filhos e aos paradoxos dos buracos negros. Sou feito de papiro, pergaminho, papel, plástico e, hoje, existo até como matéria virtual. Domino todos os ramos do conhecimento humano. “E, ao contrário dos seres humanos, jamais esqueço”. E mais: “Trabalho em silêncio, e nunca incomodo ninguém, pois jamais insisto. É o meu leitor que se cansa e, neste caso, pode fechar-me e continuar a leitura horas ou dias depois”. Ou seja, “livre e lido, sou livro”.
Também do “Estado de Minas”, outro texto surpreende. Desde sua estreia no tabloide mineiro, Ziraldo tem sido um fiasco de colunista. Mas, nesse caso, o esforço em preencher o seu espaço no “EM Cultura e Lazer” conduziu-o ao inopinado sucesso do dia 19 de abril. O autor de “Menino Maluquinho” principiou com a revelação: “Não gosto de gramática. Se há um camarada que eu não vou com a cara dele, este é o sujeito da oração”.
Como a Língua Portuguesa chega a ser, atualmente, sinônimo de professor Pasquale, Ziraldo define: “Se o Pasquale, hoje, faz tanto sucesso na televisão, se as colunas de dúvidas de português estão disseminadas por toda a imprensa, será que ninguém percebeu que - é pela simples razão de que as pessoas não sabem o que estão dizendo? E não sabem porque não conhecem o conteúdo dos significados – ou o significado dos conteúdos – da mais trivial das palavras que usam para se expressar? E conta a história desta intricada relação com a gramática: “Os professores achavam que deviam me ensinar gramática. E lá vinham eles com substantivos, adjetivos e advérbios. Ora, se em vez de me mandarem decorar a lista de substantivos tivessem me explicado que substantivo se referia à substância das coisas, à sua natureza real – usando palavras que eu pudesse entender na época – e mais: que era uma coisa que eu podia pegar, ter nas mãos, tocar e sentir, eu não precisava decorar a lista. Bastaria olhar para uma coisa substantiva e dizer: isto é substantivo. Eu diria que este substantivo era comum se ele fosse igual para todos. E poderia, por exemplo, ter saudade e saber que estavam me referindo a uma coisa abstrata ainda que fosse substantiva. Mas nunca me ensinaram o que significava abstrato, uma palavra tão rica, feita de abs e de tractus”. Com o tempo, a gente aprende. Não é mesmo, Ziraldo? “Hoje, acredito que sei escrever mais ou menos direitinho”. Já era tempo!
Nem que eu coma erva-mate-amarga-de-mato-grosso durante um ano, não me sacio por completo. Para completar minha fome púbere, preciso “degustar” o risote José Simão da Folha. Para degustar, entenda-se ler com afinco, entusiasmo e um toque de escárnio. “Por que a Jade não anda de bicicleta?, perguntou. “Porque inchalá”. O termo aportuguesado é criação minha. Mas a sátira é dele. Será que a primeira-dama “Pizza Hut Cardoso” gostou da piada?
Um parágrafo, muitas informações. Somente quem lê tem prerrogativa de acompanhar a avalanche de informações que saltam aos olhos diariamente. Portanto, quem lê, ganha o jeton para entender o mundo. Embora goste muito da leitura, não entendo certas coisas (palavrinha inevitável). Como Ana Maria Machado, em “Bom de Ouvido”, não compreendo, por exemplo, como há pessoas “que não curtem ler”.
“Ler não serve para nada”: título da coluna do Diogo Mainardi (“Revista Veja”, 28 de março). “Minha experiência (...) é que o hábito da leitura é o maior obstáculo para a ascensão social”. E mais: “A maior receita para o sucesso, no Brasil, é o analfabetismo.” Argumentos do articulista à parte, ele cometeu um ledo engano. Besteira pura dizer, sob quaisquer circunstâncias, que “ler não serve para nada”. Se eu não tivesse lido essa coluna, não poderia dizer: gente, o Diogo é um barato; mas, às vezes, é tão claudicante!
Para terminar esta dança de letrinhas miúdas, atrelo-me a dois textos interessantíssimos: “Dia do Homem”, de Marilene Felinto, Folha de S. Paulo, 12 de março e “Picolépolis”, de Rubem Alves, Folha de S. Paulo, 25 de junho de 2000. Cara professora fashion, seus textos selecionados são muito bacanas! Ora bons, ora ótimos – neste caso, respectivamente. O primeiro é intrigante: uma escritora se esquiva de sua origem feminina e até propugna o Dia das Strip-teasers. O outro, revela que a maratona dos jovens de hoje não é fácil. Lutam para ingressar no curso superior – “chupar o picolé”. É bom lembrar que o vestibular parece mais o “capeta chupando limão de conga vermelha”. Depois, brigam por uma vaga no mercado. Quanta incerteza. Obstáculos. Entraves. Sobressaltos. Com fé em São Geraldo e em você, professora fashion, vislumbro um futuro do jeitinho que eu quero. Fé no Santo, pela sua relação com os estudantes; em você, pela capacidade que tem de passar conhecimentos. Sobretudo, de vida.
Renato Soares e Silva - Estudante de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva – 2002 – 1º período
Seu texto me deixou feliz. Torço por você. Sorte! Regina Mota
Recado que escrevi após ler o texto. Hoje, o Renato é repórter do MGTV – 12h. Fico feliz quando o vejo brilhar.
Continuo torcendo por você! Sorte!
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