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Crônica Meio-dia e meia, Rubem Braga

Acho muito simpática a maneira de a Rádio Nacional anunciar a hora: "onze e meia" no lugar de "vinte e três e trinta" [...]. Mas confesso minha implicância com aquele "meio-dia e meia".

Sei que "meio-dia e meio" está errado; "meio" se refere a hora e tem de ficar no feminino. Sim, "meio-dia e meia". Mas a língua é como a mulher de César: não lhe basta ser honesta, convém que o pareça. Aquele "meia" me dá ideia de teste de colégio para pegar estudante distraído. Para que fazer da nossa língua um alçapão?

Lembrando um conselho que me deu certa vez um amigo boêmio quando lhe perguntei se certa frase estava certa ("Olhe, Rubem, faça como eu, não tope parada com a gramática: dê uma voltinha e diga a mesma coisa de outro jeito") [...] Aliás, a língua da gente não tem apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma pequena alma que aquele "meio-dia e meia" faz sofrer. E, ainda que seja errado, gosto da moça que diz: "Estou meia triste..." Aí, sim, pelo gênio da língua, o "meia" está certo.


BRAGA, Rubem. Recado de primavera. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 58.

Você concorda com Braga ao dizer que "a língua da gente não tem apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma pequena alma." ?

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